Ambiente e Sustentabilidade

Combatendo a Poluição por Plástico: O Papel do Sistema Alimentar

A poluição por plástico foi um dos focos do Dia Mundial do Ambiente deste ano, e com razão. Desde embalagens em aterros sanitários até redes no oceano e fragmentos microscópicos em alimentos e água, o lixo plástico agora atinge todas as partes do planeta. Contudo, um dos principais contributos é muitas vezes deixado fora da discussão: o nosso sistema alimentar.

A campanha do Dia Mundial do Ambiente 2025, liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente, apela a uma ação coletiva para combater a poluição por plástico e a uma mudança sistémica que aborde as suas causas profundas. Isso inclui a forma como produzimos, usamos e descartamos plásticos em sistemas inteiros, incluindo a agricultura e as cadeias de abastecimento alimentar.

Impacto das artes de pesca fantasma

O peixe é frequentemente visto como uma alternativa mais sustentável e de menor impacto ambiental do que a carne, especialmente por quem segue uma dieta pescetariana. Mas o custo ambiental da pesca industrial é significativo e frequentemente subestimado: em nenhum lado a sobreposição entre comida e plástico é mais visível do que no oceano.

Embora itens como palhinhas e embalagens de take-away dominem as notícias, uma das maiores fontes de plástico marinho são as artes de pesca abandonadas. As chamadas artes de pesca fantasma referem-se a redes, armadilhas e linhas de pesca perdidas ou descartadas no mar.

Este equipamento não desaparece. Flutua pelos ecossistemas marinhos, aprisionando animais e danificando habitats.

Segundo a organização não governamental World Animal Protection, mais de 100.000 baleias, focas e leões-marinhos morrem todos os anos em redes fantasmas.² Recifes de coral, pradarias marinhas e zonas de desova também são afetados. E porque a maioria do equipamento de pesca moderno é feito de plástico, este degrada-se lentamente em microplásticos que permanecem no ambiente durante décadas.

As artes de pesca fantasma são também um grande contributo para zonas críticas de plástico, como a Grande Mancha de Lixo do Pacífico, onde se estima que entre 75% a 86% do plástico flutuante provém de operações industriais de pesca.³

Mesmo do ponto de vista económico, o impacto é claro. Cerca de 90% das espécies capturadas por artes de pesca fantasma têm valor comercial, e estudos sugerem que os stocks de peixe nas áreas afetadas podem diminuir até 30% devido aos danos nos habitats.⁴ ⁵ ⁶

A favor do ambiente

Uma alimentação de base vegetal pode ter inúmeros efeitos positivos no ambiente, incluindo a preservação da biodiversidade, um uso mais sustentável dos recursos e o combate às alterações climáticas.

Plástico na agricultura e nas cadeias de abastecimento alimentar

Embora o plástico nos oceanos tenda a dominar a conversa sobre a poluição por plástico, é apenas uma parte do problema. Em terra, a agricultura contribui significativamente para o desperdício de plástico devido ao uso generalizado de materiais sintéticos na produção e distribuição de alimentos.

O impacto ambiental das nossas escolhas alimentares está bem documentado. A agricultura é responsável por 90% da desflorestação global,⁷ consome 70% da água doce,⁸ e é uma das principais causas da perda de biodiversidade. Os sistemas alimentares são responsáveis por cerca de um terço das emissões globais de gases com efeito de estufa.⁹ ¹⁰

O que é menos conhecido pelo público, em grande parte por ter menos cobertura mediática, é o quanto a poluição por plástico é gerada pelos sistemas alimentares. E a contribuição não se limita às embalagens dos supermercados. O plástico está incorporado na própria agricultura, incluindo películas para cobertura do solo, sacos de fertilizantes, sistemas de irrigação, caixas de transporte e coberturas protetoras. Estas formas de plástico embutido raramente aparecem nas notícias, mas representam uma parte significativa do lixo que entra nos ecossistemas terrestres.

Os microplásticos, por exemplo, não são encontrados apenas no oceano. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, os solos agrícolas podem agora conter mais microplásticos do que os oceanos.¹¹ Isto resulta da degradação das películas plásticas, dos tubos de irrigação, dos revestimentos dos fertilizantes e das lamas provenientes do tratamento de águas residuais. Uma vez que o plástico entra no solo, pode afetar a saúde do solo, a absorção de água e até entrar na cadeia alimentar.

O que comemos pode ajudar a mudar o sistema

Onde é que a alimentação de base vegetal encaixa? Ao reduzir a procura pela pesca industrial e pela produção pecuária, aliviamos as pressões que contribuem para a poluição por plástico no oceano e em terra.

Os alimentos de origem vegetal usam menos recursos e geram menos emissões. E, claro, ao contrário da pesca, não dependem de redes, linhas ou armadilhas que possam acabar como artes de pesca fantasma.¹² Adicionalmente, evitam as cadeias de abastecimento intensivas da agricultura animal industrial, que dependem fortemente de ração embaladas em plástico, fertilizantes, sistemas de irrigação e embalagens de transporte.

Se os padrões alimentares mudassem significativamente, os sistemas que os suportam começariam também a mudar, incluindo o seu impacto ambiental. Claro que isso não significa que todos os produtos à base de vegetais sejam isentos de plástico. Mas reduzir a dependência dos setores mais responsáveis pelas artes de pesca fantasma e pelo plástico agrícola é uma forma significativa de diminuir a pegada de plástico do que comemos.

Com as negociações globais sobre um tratado do plástico em curso, o Dia Mundial do Ambiente deste ano foi um lembrete oportuno de que combater a poluição por plástico significa olhar para os sistemas, não apenas para os sintomas. A produção alimentar é um deles. Quando mudamos o que comemos, ajudamos a mudar o sistema.

Adaptado de artigo de Simon Middleton, Senior Writer da ProVeg International

Referências

  1. Richardson, K., et al. (2022): Science Advances 8(41), eabq0135. doi:10.1126/sciadv.abq0135
  2. World Animal Protection. [Online] https://www.worldanimalprotection.org/our-campaigns/past-campaigns/sea-change/
  3. Lebreton, L., et al. (2022): Scientific Reports 12(1), 12666. doi:10.1038/s41598-022-16529-0
  4. Frenkel, C., et al. (2023): Marine Pollution Bulletin 196. doi:10.1016/j.marpolbul.2023.115528
  5. Al-Masroori, H., et al. (2004): Fisheries Research 69(3), 407–414. doi:10.1016/j.fishres.2004.05.014
  6. Gallagher, A., et al. (2023): Marine Policy 148. doi:10.1016/j.marpol.2022.105386
  7. FAO (2022): FRA 2020 Remote Sensing Survey. FAO Forestry Paper No. 186. https://doi.org/10.4060/cb9970en
  8. UNESCO, UN-Water (2020): United Nations World Water Development Report 2020
  9. Crippa, M., et al. (2021): Nature Food 2(3), 198–209. doi:10.1038/s43016-021-00225-9
  10. Xu, X., et al. (2021): Nature Food 2(9), 724–732. doi:10.1038/s43016-021-00358-x
  11. FAO (2021): Microplastics in soils. https://openknowledge.fao.org/items/94eb5786-232a-496f-8fcf-215a59ebb4e3
  12. United Nations Environment Programme (2024): Intergovernmental Negotiating Committee on Plastic Pollution. https://www.unep.org/inc-plastic-pollution

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