Atualização da dieta de referência global enfatiza como devemos consumir mais alimentos de origem vegetal.
A ProVeg congratula a mais recente atualização da Dieta da Saúde Planetária da Comissão EAT-Lancet, que destaca a importância de uma alimentação rica em vegetais para sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis e justos.
Pensada para responder ao crescimento populacional previsto – cerca de 10 mil milhões de pessoas até 2050 -, a Dieta Planetária agora atualizada dá ainda mais destaque a cereais integrais, frutos secos (frutos gordos), legumes, fruta e leguminosas. Apenas pequenas ou modestas quantidades de peixe, laticínios e carne são recomendadas.
Em todas as regiões, o relatório EAT-Lancet identifica uma carência comum: as dietas apresentam sistematicamente falta de fruta, legumes, frutos secos, leguminosas e cereais integrais. Ao mesmo tempo, e em muitos locais, o relatório indica que a alimentação das pessoas contem excesso de carne, laticínios, gorduras animais, açúcar e alimentos excessivamente processados.
Apesar disso, um estudo apoiado pela ProVeg, publicado na semana passada no Proceedings of the Nutrition Society, que avaliou as orientações alimentares oficiais de 100 países, concluiu que a maioria dos países continua a promover principalmente o consumo de alimentos de origem animal.
“Embora acolhamos calorosamente a mais recente atualização da Dieta da Saúde Planetária, é claro que ainda há muito trabalho a fazer para garantir que os países incorporem as recomendações desta dieta nas suas diretrizes alimentares nacionais, juntamente com uma estratégia de implementação eficaz”, afirmou Jasmijn de Boo, CEO Global da ProVeg International.
“Além de diretrizes alimentares robustas, os ambientes alimentares podem ser moldados de muitas outras formas que tornam as escolhas saudáveis e sustentáveis muito mais fáceis”, acrescentou de Boo.
“Por exemplo, o Protein Tracker nos Países Baixos, orientado pela Dieta da Saúde Planetária, estabelece metas para os retalhistas aumentarem a quantidade de proteínas de origem vegetal nas suas prateleiras. Vemos também, no Reino Unido, o programa School Plates, que introduziu mais alimentos de origem vegetal nas escolas.
Portanto, a implementação da Dieta da Saúde Planetária exige que os decisores políticos, as empresas e a sociedade trabalhem em conjunto”, concluiu.
Mais sobre o estudo da ProVeg
A investigadora principal do estudo apoiado pela ProVeg sobre diretrizes alimentares nacionais, Anna-Lena Klapp, que é também Diretora de Investigação da ProVeg Internacional, afirmou que a maioria das diretrizes alimentares nacionais recomenda atualmente sobretudo alimentos de origem animal no grupo das proteínas, apresentando o leite e os laticínios como um grupo alimentar autónomo, sem fornecer qualquer informação sobre alternativas de origem vegetal.
Principais conclusões do estudo da ProVeg:
- 18% das diretrizes alimentares oficiais nem sequer mencionam fontes de proteína de origem vegetal.
- 30% não mencionam fontes de ferro de origem vegetal.
- 39% não abordam fontes de cálcio de origem vegetal.
O artigo identifica as seguintes cinco “lacunas cruciais” que precisam de ser colmatadas para orientar as diretrizes numa direção mais saudável e sustentável:
- São necessárias classificações de grupos alimentares mais inclusivas, que contemplem fontes de proteína de origem vegetal;
- São necessárias recomendações mais claras para limitar o consumo de alimentos de origem animal, por razões de saúde e ambientais;
- É necessária orientação sobre como obter macro e micronutrientes essenciais a partir de fontes vegetais;
- As alternativas de base vegetal aos alimentos de origem animal precisam de ser incluídas nas recomendações alimentares.
“Embora os alimentos de origem animal possam representar uma fonte importante de nutrientes, o seu consumo excessivo e a agricultura animal intensiva contribuem também para os grandes desafios globais que a humanidade enfrenta atualmente, incluindo as alterações climáticas e a perda de biodiversidade, o bem-estar animal e a saúde pública”, afirmou Klapp.
“À medida que as nações se reúnem no Brasil, em novembro, para a Cimeira do Clima COP30, irão debater como reduzir as emissões provenientes do sistema alimentar. As diretrizes alimentares são uma das ferramentas que podem ajudar de forma eficaz a alcançar esse objetivo”, acrescentou.
E em Portugal?
Em Portugal, a ProVeg apresentou, no início deste ano, um estudo com propostas para a revisão da Roda dos Alimentos nacional, defendendo uma maior presença de alimentos de origem vegetal em prol de mais sustentabilidade ambiental e diversidade alimentar.
A Dieta Mediterrânica, já reconhecida como património cultural imaterial da humanidade pela UNESCO, é naturalmente rica em alimentos de origem vegetal – como legumes, fruta, cereais integrais, leguminosas e azeite, como gordura de eleição – e pode ser a base para um modelo alimentar que alie tradição e modernidade. A atualização da Roda dos Alimentos nesse sentido permitiria reforçar a ligação entre saúde, cultura e ambiente, ao mesmo tempo que alinharia Portugal com os objetivos globais de sistemas alimentares mais sustentáveis, resilientes e sustentáveis.






